Eu não sou a mais apaixonada por Virginia Woolf, mas concordo com ela em alguns aspectos da vida da mulher... Dizia ela:
“(...) Shakespeare teve uma irmã; mas não procurem por ela na vida do poeta escrita por
Sir Sidney Lee. Ela morreu jovem - ai de nós! Não escreveu uma só palavra. Ela
está enterrada onde os ônibus param agora, em frente ao Elephant and Castle.
Pois bem, minha crença é que essa poetisa que nunca escreveu uma palavra e que
foi enterrada numa encruzilhada ainda vive. Ela vive em vocês e em mim, e em
muitas outras mulheres que não estão aqui esta noite, porque estão lavando a
louça e pondo os filhos para dormir. Mas ela vive; pois os grandes poetas nunca
morrem, são presenças contínuas, precisam apenas da oportunidade de andarem
entre nós em carne e osso. Pois minha crença é que, se vivermos
aproximadamente mais um século - e estou falando na vida comum que é a vida
real, e não nas vidinhas à parte que vivemos individualmente - e tivermos, cada
uma, muitas libras por ano e o próprio quarto; se tivermos o hábito da
liberdade e a coragem de escrever exatamente o que pensamos; se fugirmos um
pouco da sala de estar comum e virmos os seres humanos nem sempre em sua relação
uns com os outros, mas em relação à realidade, e também o céu e as árvores ou o
que quer que seja, como são; se olharmos mais além do espectro de Milton, pois
nenhum ser humano deve tapar o horizonte, se encararmos o fato de que não há
nenhum braço em que nos apoiarmos, mas que seguimos sozinhas e que nossa relação
é para com o mundo da realidade e não apenas para com o mundo dos homens e das
mulheres, então chegará a oportunidade, e o poeta morto que foi a irmã de
Shakespeare assumirá o corpo que com tanta freqüência deitou por terra.
Extraindo sua vida das vidas das desconhecidas que foram suas precursoras, como
antes fez seu irmão, ela nascerá. Quanto a ela chegar sem essa preparação, sem
esse esforço de nossa parte, sem essa determinação de que, quando nascer
novamente, ela achará possível viver e escrever sua poesia, isso não podemos
esperar, pois isso seria impossível. Mas afirmo que ela viria se trabalhássemos
por ela, e que trabalhar assim, mesmo na pobreza e na obscuridade, vale a
pena.”
E aí, eu acrescento que vale a pena, ao menos, para saborear o gosto doce que tem a liberdade. A liberdade de ousar, de não ter arrependimentos, de não ter medo de ter medo, de não ter culpa de ter culpa, e principalmente, de viver sem levar para o lado pessoal o que está nos sendo dito. Porque se o fizermos, acreditaremos e concordaremos com o que está sendo dito. E então, parafraseando Sartre, o inferno se tornará os outros...! E por que os outros e o que dirão os outros, se nada afeta o que sou? Afinal, os outros opinam de acordo com seus sistemas de crenças...
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